Tragédia anunciada? Não!!! Os casos que vimos nos últimos dias mostram efetivamente a certeza da impunidade que há no Brasil.
Somente nesse início de 2019 inúmeros casos tomaram conta dos noticiários. Foram tantos que um acaba superando o outro e a notícia cai no esquecimento. Mas não podemos mais aceitar e a Justiça não há de deixar.
Minha coluna desse mês estava pronta quando vieram na sequência, Brumadinho, Flamengo e o helicóptero. Em menos de um mês três fatos que comoveram o Brasil.
Depois de 3 anos a Vale protagonizou novamente uma dessas tragédias. Mais uma barragem se rompeu e mais de 300 vidas se perderam na pequena Brumadinho. Uma barragem obsoleta, com sérios sinais de desgaste, aliados ao descaso da companhia e à corrupção de técnicos, hoje presos, levaram à essa imensa tragédia. O presidente da empresa mostra uma total indiferença e uma arrogância impar ao declarar que a Vale “é uma joia brasileira que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia”, como se tivesse sido a primeira vez e as centenas de mortes não fizessem a menor diferença. Para ele pagar uma mísera indenização resolve tudo, como se o dinheiro superasse a dor e as histórias de vida ceifadas pela ganância.
Exatamente duas semanas depois outro descaso acabou em tragédia e mais 10 mortes. O alojamento onde dormiam jogadores das categorias de base do Flamengo incendiou-se. O local, totalmente inadequado não dava a menor segurança aos jovens na faixa de 14 anos que ali viviam. A prefeitura fez vista grossa e deixou passar, até o fato se consumar, e agora? O clube também no alto de sua arrogância oferece indenizações irrisórias às famílias, cujo valor algum reparará o dano. Isso porque tem um faturamento previsto de 750 milhões de reais para esse ano e investiu em apenas 3 jogadores para o time principal aproximadamente 110 milhões. Mas o que são vidas, não é mesmo?
Por fim, nesses macabros dias de 2019, o acidente que matou o jornalista Ricardo Boechat tomou o noticiário. Nesse caso um helicóptero em ótimas condições, porém fazendo algo para o qual não tinha autorização, o transporte de pessoas. Talvez passasse despercebido se uma das vítimas não fosse uma personalidade. Nesse caso, como dizemos no direito a maior punição aconteceu também ao infrator, afinal o piloto e proprietário da aeronave que podia apenas fazer voos para filmagens e fotos também faleceu na ocasião.
Enfim meus caros, enquanto a certeza da impunidade vigorar nesse país ainda teremos, infelizmente, muitos outros casos como esses, afinal como não nos lembrarmos da boate Kiss, da barragem de Mariana, da explosão de um shopping aqui perto, entre outros que entraram para as estatísticas. As leis existem, estão aí para serem aplicadas e punir os responsáveis. Cabe à Justiça fazer o seu papel e cabe a nós, cidadãos, cobrarmos, não esquecermos e ficar no aguardo da próxima tragédia, ou seria do próximo homicídio?
José Antonio F. Antiório Filho é Advogado com MBA em Gestão Empresarial.
*Artigo publicado na Revista Vertical News
Edição nº 59 – 03/2019