Meus Direitos?

A coluna desse mês não será basicamente sobre os “Seus Direitos”, mas sim sobre uma total inversão de valores que temos visto nos últimos tempos. Até onde vão os “Seus Direitos”?

Foi ouvindo as ruas, lendo nas redes sociais, assistindo televisão e ouvindo o rádio que comecei a refletir sobre o tema. Até onde vão os nossos Direitos? A resposta óbvia, é até onde a legislação permitir, ou então, até onde começar o direito do próximo, certo? Pois é, o óbvio já não é mais tão claro assim. As pessoas estão perdendo a noção das coisas.

Um exemplo são os radares, não sou um defensor deles aliás, bem pelo contrário, porém o que se vê hoje são protestos sobre a famigerada “indústria da multa”. Ora meus queridos leitores, essa indústria só existe porque somos coniventes com ela. Leis, normalmente, não são feitas para agradar uns ou outros, mas para serem cumpridas. Se a velocidade numa certa rodovia é 120 km/h é a 120 km/h que devemos andar. Se a velocidade nas marginais é 50 km/h ou 70 km/h são essas que devemos obedecer. Se ultrapassar o sinal vermelho é infração, não há de se reclamar que ali existe um radar escondido, ou mesmo um “marronzinho”. O maior “tapa na cara com luva de pelica” em quem quer se beneficiar das multas, seria cumprir as todas as regras. Ou não? Adianta discordarmos, espernearmos? Mas as pessoas têm agido exatamente ao contrário, descumprem mesmo sabedores de que punições virão. Em algumas situações sabe-se estar infringindo a lei, e pior, assumindo riscos desnecessários e perigosos. Ao passar num sinal vermelho, mesmo que em altas horas da noite, corre-se o risco de um acidente grave. Ah sim, mas e se parar posso ser assaltado! Depende, a cautela é sempre a melhor solução. Dirigir sob o efeito de álcool, por exemplo, não é apenas uma infração, é um crime. Todos sabem que o álcool afeta não só os reflexos, mas também o bom senso. Quantos “pilotos” e “heróis” não surgem quando se tomam alguns goles, sem contar aqueles que nem se lembram do que fizeram na noite passada.

Atualmente temos as manifestações nas ruas contra a corrupção, contra o governo da atual presidente e seu partido, mas o que fazemos nas nossas vidas? O que fazemos para mudar tudo isso? Qual de nós já não ouviu as pessoas se vangloriando de seus “pequenos subornos” seja para escapar de uma multa, para passar na frente em algum lugar, etc. As “furadas” de fila, a “cola” na prova, o “jeitinho” para muita coisa, não serão formas de corrupção também? Tudo isso sem contar nos famosos “QIs”. Todos esses fatos e muito outros que não caberiam nessa revista, ou mesmo num livro bem grosso, são fatos com que convivemos. Falei de tudo isso para dizer apenas que os governos são apenas retratos dos seus eleitores. Se estão lá, é porque nós os colocamos. E adianta reclamar o leite derramado?

Outra coisa, e essa até mais grave, que temos presenciado dia após dia é a famosa frase: “é meu direito”. Essa frase, muitas vezes, soa como uma ameaça, e não são poucos os que se curvam a ela. Vocês podem pensar: ‘mas eu tenho meus direitos’. Sim, todos temos nossos direitos, mas também existem os direitos dos outros, e acima de tudo isso também existem os nossos deveres. E caímos aí em algo que parece estar em desuso ultimamente, a EDUCAÇÃO! Sim e educação no sentido amplo da palavra. Ser educado não apenas saber se portar numa mesa ou segurar os talheres de forma correta. Ter educação é saber acima de tudo respeitar o próximo e as leis. Lembro que no passado, quando a tecnologia não era o centro de tudo, que se infringíssemos as regras, tínhamos a atenção chamada de tal forma que muitas vezes nem era necessária uma multa. Fato corriqueiro, andar em velocidade acima do permitido, tinha ali o policial que parava o condutor, chamava sua atenção de forma contundente, aplicava uma multa e pronto. Quase igual agora, alguém pode dizer. Mas essa “chamada de atenção” muitas vezes servia para a vida toda, sem contar que o atraso provocado por essa “parada” era muito maior do que se tivesse andado na velocidade correta.

Pois é meus leitores, vamos pensar e refletir sobre nossas condutas e lembrarmos que temos nossos direitos sim, mas também temos nossos deveres, e não adianta reclamar do vizinho e agir da mesma forma.

José Antonio F. Antiório Filho é Advogado com MBA em Gestão Empresarial.

*Artigo publicado na Revista Vertical News

Edição nº 30 – 12/2015