Franquias – Solução ou Escravidão

Na década de 90, em meio à crise financeira e ao sonho de todo brasileiro em tornar-se empresário houve um crescimento imenso da abertura de novas empresas, porém, esse crescimento também veio com uma inovação frente a épocas anteriores e que perdura até os dias de hoje. Essa inovação foi justamente a explosão da abertura de franquias por todo o país. Grandes redes se disseminaram, mas também novas marcas, até então empresas de um único dono, expandiram suas marcas no mercado de forma impressionante.

Tudo isso aconteceu justamente, ao meu ver, pela pouca experiência dos novos empreendedores, que tinham um certo capital para investir, mas não sabiam como e muito menos onde. E as franqueadoras cresceram, oferecendo aos seus franqueados o know how muitas vezes nem imaginado por seus “clientes”, bem como treinamentos, estudos de mercado, produtos, material de trabalho e em alguns casos até mesmo matéria prima para produção.

Um dos casos de maior crescimento foi de uma marca de chocolates, em que proprietário sempre teve como meta atingir o número de mil lojas em um determinado espaço de tempo. Queria ser a maior rede de lojas de chocolates “premium” do país, ultrapassando a até então líder do mercado.

Outros ramos e setores econômicos também entraram nessa onda e cresceram muito, caso de academias de ginástica, restaurantes, fast foods, escolas de idiomas, salões de beleza e até mesmo imobiliárias.

Essas grandes marcas oferecem de tudo aos seus franqueados, porém tudo isso pode ter um preço alto, como alguns dizem você não é dono do próprio negócio! Essa afirmação em alguns casos é realmente verdadeira, em outros nem tanto. Apesar de toda assistência na montagem do negócio, algumas franquias acabam “exagerando”. São taxas e mais taxas, royalties altíssimos, matéria prima “exclusiva” muito mais cara que o mercado oferece, mas acima de tudo e que realmente cabe nessa coluna: contratos que beneficiam apenas as próprias franquias.

Há algum tempo fui consultado por uma loja cujos donos não conseguiam mais cumprir todas as exigências da marca, porém, a franqueadora não permitia o fechamento, e também não aceitava passar a gerencia-la. Pois bem, depois de um exaustivo trabalho conseguiram “passar para a frente” o negócio. Não foi fácil e quando assisti aos novos proprietários, percebi que se tratava de uma espécie de escravidão dentro da sua própria empresa, inclusive com câmeras ligadas para ver se o dono estava ali. Oras, será que o proprietário da marca também fica “full time” a serviço da empresa? Será que não tira suas merecidas férias? Será que não tem direito a ficar com seus filhos? Com certeza ele tem essa liberdade, mas priva seus franqueados “clientes” da mesma condição. Existe também uma grande rede de restaurantes onde o proprietário é dono de apenas metade do negócio, ou seja, entra com o capital, investe tudo e ganha de quebra um sócio que detém 50% da sua empresa.

Por outro lado, tive a experiência de vivenciar há alguns anos o processo em que uma grande escola de idiomas precisou agir para salvar uma de suas “unidades”. Naquela ocasião, o antigo franqueado “quebrou” pois foi audacioso ao extremo, num momento inadequado. A franqueadora então assumiu a escola, saneou as contas, administrou de forma a deixa-la superavitária e a repassou a alguém que teve como prosseguir com o negócio.

Existem ainda, algumas empresas que não são bem “franqueadoras” mas oferecem sua marca e seu know how, através apenas da venda de materiais que são repassados aos clientes do parceiro, bem como treinam a equipe desse e oferecem algumas assessorias. Isso é muito comum com as escolas que adotam os famosos “sistemas de ensino”. Existe também de uma rede de outro ramo que “aluga” sua marca por um determinado tempo, e quando o parceiro/franqueado já adquiriu uma certa experiência sugere que crie sua própria marca e passe a andar com pernas próprias.

Para finalizar recomendo que, ao procurar uma marca para investir e ter seu próprio negócio analise muito bem todas essas questões, afinal, de que adianta livrar-se de um patrão para virar escravo dentro de seu próprio negócio? Dono tem de trabalhar sim, mas também tem direito ao lazer e ao descanso. Regras de certas marcas devem ser cumpridas sim, mas também deve haver liberdade para se administrar seu próprio negócio dentro dos padrões de uma boa gestão. Cuidado com os contratos e principalmente com aspectos que muitos não analisam no afã de criar sua empresa como, por exemplo, valores a serem pagos no momento da “renovação” da franquia, que em alguns casos pode superar um faturamento bruto, o que pode impactar muito na continuidade do negócio.

José Antonio F. Antiório Filho é Advogado com MBA em Gestão Empresarial.

*Artigo publicado na Revista Vertical News

Edição nº 32 – 02/2016