Ainda somos os mesmos?

A propaganda de uma grande marca de veículos produzida para comemorar seus 70 anos de história trouxe muita emoção a gerações inteiras, mas também colocou na mesa uma polêmica: até onde vão os limites do uso da inteligência artificial?

Como fã de mãe e filha posso dizer, com o coração, que foi um dos comerciais mais lindos dos últimos tempos. Nos remete a lembranças maravilhosas, seja dos amantes da música, seja dos adoradores de carros, seja dos mais tecnológicos.

Mas aí vem a discussão: e os limites?

Será que temos o direito de usar a imagem de alguém que nos deixou há tanto tempo criando uma espécie de “personagem” através da IA? Será que aquela pessoa gostaria de ter sua imagem usada 40 anos depois de sua morte, inclusive colocando voz e gestos, que talvez nem sejam tão parecidos?

E aí entramos em outras situações que temos visto crescerem dia a dia: até que ponto nossas vidas e nossa privacidade estão protegidas?

Se qualquer um de nós partir para uma outra dimensão hoje quem terá acesso aos nossos conteúdos digitais? Para muitos uma herança valiosíssima, para outros uma invasão. Quem tem acesso à rede social de um ente querido não entrará apenas numa página de conteúdo público, entrará, às vezes, nos mais íntimos segredos como conversas, páginas visitadas, conteúdos curtidos e muito mais.

Estamos chegando numa fronteira muito perigosa, a da linha tênue que tem de um lado a ética, o respeito e a privacidade e de outro o poder econômico, a tecnologia e acima de tudo a invasão de uma privacidade que não imaginamos se a pessoa gostaria de ter vasculhada, divulgada, mexida ou, simplesmente, editada.